Estou num quarto escuro. Lembro-me vagamente que me tapaste os olhos com uma venda, e fizeste-me prometer que não iria-a a tirar enquanto não te encontrasse. Apalpei o quarto todo, de uma ponta á outra, não te encontro. Sinto o teu cheiro a navegar no ar, mas não te sinto a ti . Não sinto o teu quente. Quero tirar esta venda, que parece uma barreira enorme que me está a separar de ti, mas uma promessa é uma promessa. Não desisto, e continuo a procurar, só mexo em móveis, sinto o pó a instalar-se nas minhas mãos, e na minha roupa. Quero gritar, quero tirar isto, quero acender a luz, mas não posso, há uma força maior, uma voz mais forte que me proíbe. Estou com receio que tenhas aproveitado enquanto não te podia agarrar, chorar, e pedir para ficar, para ires embora. Se me fizeste isso , eu baixo os braços e nunca mais luto por ti. Estou a tentar acreditar que não. Que estás bem ali ao meu lado, a rires-te da minha figura. Desisto. Sento-me , abraço-me , e vou ficar aqui até tu resolveres aparecer. Se for amanhã, fico aqui até amanhã. Se tivesses ido, o meu coração já tinha parado de bater.
Sei que não passa de um sonho, porque já te foste há muito tempo. Já tens a sola gasta, de tanto fugir de mim, e dos meus sonhos. Tu serás sempre o tal. Queiras ou não.