As palavras fogem-me, são gotas indetermináveis de um refúgio imprevisível. Bato tantas vezes, contra o tempo, e ele não espera. Avança á minha frente, sem olhar para trás. Não o agarro, e chamo-o. Mas não me ouve. Fui eu que desenhei o tempo, mas esqueci-me de lhe dedicar mais tempo, se soubesse tinha-lhe desenhado orelhas, mãos, boca, olhos, e pernas longas, braços firmes. Se soubesse, tinha-o pintado, com as cores mais garridas. Mas eu só disse: "Hoje, vou desenhar o tempo". Mas o cansaço de não o ter, levou-me para as margens contrárias ao rio, e caí sobre a folha em branco. Foi assim, que terminei o desenho, com um rasto de palavras em silêncio. Hoje ele corre, não me vê, não me ouve, não me abraça, não me segura e não corre atrás de mim. Hoje, ele escoa pelo céu como se fossem longas mãos de um piano que correm suavemente de um lado ao outro e é assim, surge assim. Hoje percebi que sou diferente, por mais triste que esteja estou a sorrir. E mentalizei-me que consegui criar a máscara mais bonita. O meu olhar, está tapado por papel transparente. As olheiras, escondidas por plástico absorvente. E assim sou eu, coberta a cores invisíveis, com um mundo transparente onde o tempo, corre à minha frente e eu corro atrás dele.