Quando a minha boca se abre e o meu coração se perde é aí que percebo que errei. Tenho um grande problema, sempre tive o coração demasiado perto da boca. Acho que já devo ter nascido assim, com uma vontade imensa que o coração palpite na ponta da minha lingua. Controlar-me seria fácil se não sentisse que a minha vontade de ser é maior que a minha vontade de ficar. Pode parecer confuso ou esquisito, mas há algo maior que nós próprios que nos faz mover, que nos faz sentir que não somos apenas marionetas e que nos faz sentir que valemos a pena e que estamos aqui por alguma coisa e é essa coisa que provavelmente me pôs o coração tão acima do sitio onde deveria estar. Não me parece que exista nada falso quando se abre a boca e o coração não fala, só me parece inútil, não inútil sob um ponto de vista teórico, mas inútil sob o ponto de vista da vida. Se nós temos sentimentos é porque é necessário expressá-los de alguma forma. É demasiado incómodo ter o coração ao pé da boca, porque quando controlamos ele vai para os olhos, para a cara ou para o nariz, o coração sente e fala ao mesmo tempo. Só tenho pena daquelas pessoas que não falam com o coração ou até mesmo das que não o têm. Porque o coração não pode ficar preso para sempre, e se precisarmos de falar que seja com o coração. Apesar de muitas vezes ser traiçoeiro e fazer-nos dizer o que não queremos, é sempre o mais acertado. Afinal ter o coração demasiado perto da boca não é assim tão mau. O coração é o orgão que nos faz viver e tenho a certeza que tenta sempre dizer o que é correcto.