Gosto de pensar que tenho saudades tuas. Que, de uma forma ou de outra, ainda me vou lembrando de ti. Que na tua ausência me vou torturando pelo que podia ter sido e não foi. Que a distancia também me dói e que aos poucos me vai afogando o orgulho. Gosto de pensar que ainda te desejo. Que todas as noites antes de adormecer, enterro a cabeça na almofada em busca do teu cheiro. Gosto de pensar que, à minha maneira, e é tão estranha por sinal, ainda gosto de ti. Que quando preciso de um colo para me mimar, de um abraço para me proteger, de um ombro para descansar, é em ti que penso. Que quando preciso de um sorriso em que acreditar, de um olhar para me tranquilizar, do prazer para viver, é de ti que sinto falta. Gosto de pensar que quando estou sozinha, ainda me perco nas memórias do que conseguimos construir e ultrapassar juntos. Assim, gosto de pensar que ainda sou um bocadinho tua. Mas ainda consigo lembrar-me de tudo o que aconteceu (…), até ao mais pequeno pormenor. Recordo-o várias vezes, dando-lhe vida de novo, e percebo que quando o faço sinto sempre uma estranha combinação de tristeza e alegria. Uma certa Nostalgia. Há momentos em que me apetece fazer com que os ponteiros do relógio andem para trás e livrar-me de toda essa tristeza, mas tenho a sensação de que, se o fizesse, desaparecia também a alegria. Assim, fico com as recordações à medida que elas surgem, aceitando-as todas, deixando que me guiem sempre que possível. Isto acontece com mais frequência do que eu gostaria de reconhecer. É sempre mais fácil imaginar a vida do que vivê-la. É sempre mais fácil e mais interessante, porque somos nós que escolhemos tudo, o tempo e o modo, a razão e o fim. Na vida, manda a realidade e ninguém pode mudar o que de facto acontece todos os dias. E de novo acredito que nada do que é importante se perde verdadeiramente. Pois tudo o que é verdadeiramente nosso, volta sempre para as nossas mãos. Apenas nos iludimos, pensando ser donos das coisas, dos instantes e dos outros. Comigo caminham todos os mortos que amei, todos os amigos que se afastaram, todos os dias felizes que se apagaram. Não perdi nada, apenas a ilusão de que tudo podia ser meu para sempre.