Estou a ficar desgastada com a chuva que insiste em escorrer pelas minhas costas chegando aos meus pés, gelada como o frio que me consome. Escorrego em todas as poças que encontro e agarro-me ao primeiro desconhecido que encontro. Peço desculpa e agradeço por me ter sustentado naquele momento. Continuei o meu caminho, sempre em frente, como sempre me ensinaram. Pergunto : Estou a ir mesmo em frente, ou será que já desviei o caminho sem sequer me ter apercebido?, e mais uma vez, dei por mim a chorar naquele cantinho que, naquele momento, designei como meu. E assim tem sido em todos os obstáculos que encontro. A minha incapacidade foi capaz de se apoderar da minha força e traiu-me. O coração também me está a trair, as mãos que não param estão a trair-me. Os braços que permanecem fechados, a boca que continua sem pronunciar uma única palavra, estão também a trair-me. Os amigos que me falham, os sorrisos que não vejo, as palavras que não ouço, sou eu ou são eles? Quem é que está a falhar agora? Sou eu! Eu e os meus hábitos, eu as minhas manias. Não quero pedir desculpa, não me quero rebaixar mais. No silêncio da minha inocência tento seguir em frente sozinha. Mas não sou capaz, é como querer andar sem ter chão. Eu hoje, disse ao mundo que ia desistir. E desisto, desisto de tudo e todos. Desisto das palavras, das conversas, dos beijos, dos abraços, das esperanças. Desisto de tentar perceber, desisto e desisto. Volto a desistir, como sempre fiz. Na escuridão do meu pequeno quarto, no meio de todo o ensurdecedor silêncio, sussurro às paredes : amo-vos, amigos, a todos, quer estejam ou não comigo, neste longo percurso que tão difícil tem sido.