Espelhos da alma.
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05102010
Espelhos da alma.
Não gosto de espelhos, ou melhor, não gosto de me olhar ao espelho.
De saber o que os meus olhos vão ver, eu não gosto. Não gosto de me sentir um nada, que se torna ali, no seu reflexo. Não gosto de sentir o meu corpo tremer cada vez que me aproximo e não gosto, simplesmente não gosto. As minhas mãos, caem violentamente sobre ele, o meu corpo desfalece e as lágrimas inundam-se na face precipitada por uma imagem. Triste é saber que toda a humanidade é um espelho, que me vê como se eu estivesse ali, reflectida. Quem me dera poder-me esconder. Poder não mostrar a minha face nem as fragilidades do meu gelado corpo. Às vezes, tenho frio quando me olho ao espelho. Frio de arrepio, arrepio de não me ver. Eu não me vejo, eu idealizo-me como se estivesse num beco sem saída, idealizo-me sem ter para onde ir, sem saber onde ir, nem como ir, o que sou e o que tenho.
Eu fujo, e onde passo lado-a-lado com espelhos, a minha cara torna-se deprimida. Sou serena e inquieta, e altero o meu humor. Por me ver, daquela maneira. Numa noite, descobri um espelho que todas as noites o visito, que todas as noites me olha e me sussurra que tudo vale a pena. Um espelho que me enche de força para caminhar, independentemente daquilo que vir. Agora, posso-me olhar a mil espelhos, de qualquer forma, que o que eu vejo é um nada. Não influência, nem me enche de felicidade. Apenas me baseio no que a minha alma se repleta, no que o espelho que todas as noites vou visitar debaixo da cama me diz. Sim, existe um espelho debaixo da cama. E já me ajudou em muitos combates, contra monstros, contra medos. Dantes, fugia, enrolava-me nos longos lençóis e cobria-me do mundo lá fora, tinha medo de ser atacada, de ser vencida. Um dia, ouvi algo juntar-se. Eram as peças de um espelho que parti e lancei para os subúrbios, que se escondiam debaixo da cama. Levantei-me, e já não corria o risco de pisar os vidros que restavam do ódio. Mas vi uma luz, como se um espelho encontra-se a mais pura água, uma luz de um arco-íris. Peguei numa manta vermelha, e com ela cobri o meu corpo e fui-me deitar com todos os meus medos, ouvindo os conselhos de um espelho que foi construído pela alma.
No fim, percebi que aquilo que temos dentro de nós, é muito superior ao que por fora é desenhado. Por vezes, o nosso verdadeiro espelho é aquele com que vamos unindo vidrinhos para ultrapassar as dificuldades, para enfrentar os medos e viver, com todo o sentido da palavra.
' cláuu.- Fuga Forever
- Idade : 29
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