Aproximo-me do teu rosto com o coração a bater mais do que o corpo pode aguentar. Sinto o calor da tua face na minha, as minhas mãos nos teus braços mantendo uma distância segura, para que o corpo não irrompa em chamas e atinja a insanidade. Ainda tenho o toque da tua mão gravado sobre a minha, como se ainda ali a mantivesses, não me querendo largar nem deixar afastar-me. Seguras-me os braços, e sinto-te vencer um pouco mais a distância entre nós, eu ficando corada, os lábios tremendo na tua face, rezando para que não o sintas.
Antes de me afastar da tua face, sinto a tua pele roçar na minha, esse perfume distinguível misturando-se com o meu. A força que as tuas mãos exercem sobre mim aumenta mas não creio que repares nem que te vá chamar a atenção para isso. Porque mais rápido que o bater do meu coração, sinto os teus lábios pressionarem-se sobre os meus.
O meu corpo parece gelar por segundos, ficando sem qualquer movimento e só quando percebo que és realmente tu que ali estás, fecho os olhos e deixo-me levar, a temperatura sendo recuperada de uma forma que não é definitivamente normal. E pergunto-me se o percebes, se entendes como estou nervosa, como o meu coração parece querer saltar-me do peito e os meus lábios reclamam ao sentir os teus afastar-se.
E é por isso que olho para ti, os olhos brilhando que nem estrelas, como que pedindo, implorando por ti. E aproximo-me de ti e o contacto dos nossos lábios apenas parece mais perfeito. E quando tudo aquilo acaba é como se as vozes ao meu redor se tornassem mais altas, e percebo que durante aquele momento, parecíamos ser apenas nós os dois.
Mas há caras espantadas à minha volta, e quando sinto as tuas mãos ficarem mais fracas nos meus braços, o frio volta a invadir-me.
Depois disso pouco me lembro. Não sei o que te disse na despedida. Sei apenas que te vi ir, e não creio ter dito muito mais do que "Eu tenho de ir.".
Ainda estava demasiado coise, espantada, e sem palavras. E o mundo parecia voltar a ser o mesmo, embora continuasse a rodar a uma velocidade que eu não conseguia acompanhar. E eu virei as costas para não te ver ir e senti vozes aproximarem-se de mim.
Então elas começaram a mandar vir comigo, quando tu já não estavas ao alcance do meu olhar, e o frio voltou ao meu corpo. Apertei a toalha contra o peito e continuei a andar em direcção ao mar, acompanhada por perguntas e vozes.
Mas elas não sabiam que eu estava demasiado "longe" para as ouvir. Estava a tentar recordar o sabor dos teus lábios, o aroma da tua pele e a força exacta que me aplicaste nos braços, e me fizeste sentir que aquilo seria para sempre.