Dispensados. O meu caixote do lixo é melhor do que o teu

Benfica e Sporting têm parados seis jogadores que custam mais de seis milhões de euros por ano. Makukula, Yebda e Stojkovic são os mais fáceis de descalçar.


Balbou custou 4 milhões mas rendeu pouco ou nada: 13 jogos, 285 minutos e 0 golos.

Dois amigos encontram-se na rua, um deles baba-se com a mini-saia que lhes passa ao lado, o outro diz que não é assim nada de especial. "Tens de me dizer onde é o teu caixote do lixo", responde o babado. Este podia ser o presidente de qualquer clube razoável em Portugal ou na Europa, o outro seria Luís Filipe Vieira ou José Eduardo Bettencourt - tanto o Benfica como o Sporting têm jogadores para dispensar que fariam os sonhos de belas equipas por esses campeonatos fora, mas o problema acaba sempre por ser o dinheiro. Um corpo destes (perdão, um futebolista destes) não se trata a empadão e bitoques, gosta de comer nos melhores restaurantes e de passear as T-shirts Armani e os cintos com fivelas Dolce & Gabbana nos melhores bares da cidade.

O caixote do lixo do Benfica é melhor do que o Sporting. Ou pelo menos é mais valioso. Só os ordenados anuais de Makukula, Zoro e Balboa, qualquer coisa como 2,7 milhões de euros, chegam para pagar os cinco proscritos de Paulo Sérgio e Costinha. Caneira e Stojkovic são os nomes mais sonantes que não cabem no plantel leonino para a temporada que agora se inicia, o primeiro anda a treinar-se isolado (num grupo com Purovic, Pedro Silva e Mexer), o segundo regressa amanhã a Alcochete para lhes fazer companhia - pelo menos aparece um guarda-redes nas peladinhas.

A táctica de afastamento dos dispensados não é nova no nosso país e na época passada era o Benfica que a adoptava, com Balboa a fartar-se e a soltar o rol de queixas numa entrevista ao i. "Jodido." Hoje Balboa sabe que não terá lugar no plantel mas pelo menos esteve integrado no estágio da pré-temporada, tendo até participado nos jogos de preparação. Essa é a melhor forma de lhe manter o valor e, no fundo, alcançar o objectivo que os clubes traçaram para todos: a venda do passe.

Resta saber quem pega em quem. Veja--se o caso de Jorge Ribeiro. O lateral esquerdo irmão de Maniche ganha 50 mil euros mensais no Benfica e não há clube que lhe ofereça o mesmo. Na Luz já lhe abriram as portas mais do que uma vez mas, está visto, o canhoto não se marcha sem que lhe paguem aquilo que tinha previsto receber. E assim se entra neste impasse geral que só não afecta os poucos jogadores capazes de valorizar-se nos últimos tempos. Makukula, por exemplo, foi o melhor marcador do campeonato turco (fez 21 golos emprestado no Kayserispor) e é um dos bons avançados disponíveis no mercado. O internacional português apresentou-se agora no Benfica, depois de falhadas negociações de transferência para o Trabzonspor, diz que até gostava de jogar na Luz mas o mais certo é Luís Filipe Vieira tentar vendê-lo para os campeonatos turco ou alemão. Yebda vive situação semelhante. Tendo mais três anos de contrato com o Benfica, o internacional argelino titular no Mundial da África do Sul tem alguma reputação em Inglaterra, depois do ano de empréstimo no Portsmouth. O Bolton é o clube no horizonte. Mais complicada é a situação de Zoro e de Freddy Adu. O central marfinense passou de internacional importante na Serie A italiana (Messina) a jogador mais ou menos despercebido no Vitória de Setúbal. Ainda por cima, quando o contratou para o Benfica, José Veiga ofereceu-lhe um contrato de um milhão de euros hoje incomportável. Quanto a Adu, emprestado para o Aris de Salónica, fez o mesmo que em Portugal: aterrou no aeroporto como novo Pelé mas entretanto está desaparecido à espera de nova colocação. Como o contrato de empréstimo com os gregos é de ano e meio, Luís Filipe Vieira espera não ter de resolver este problema no imediato.

TRIBUNAIS? O Benfica mandou Jorge Ribeiro apresentar-se apenas dia 28 e para já não marginaliza nenhum jogador do plantel. No Sporting passa-se o contrário. Stojkovic é o elemento com mais mercado (esteve perto do Braga) e depois da participação no Mundial os leões devem encontrar uma solução, mesmo que o sérvio já tenha dado a entender que não aceita qualquer proposta. Mas resta saber como será com os restantes, especialmente Caneira, Pedro Silva e Purovic, os quais não abdicam de um cêntimo para sair de Alvalade. Em aberto está o cenário de recorrerem aos tribunais para contestarem o afastamento do plantel. Até lá, juntamente com os dispensados da Luz, valem 6,4 milhões de euros/ano em ordenados.

Fonte: i