Em coma após salvar irmão do carro a arder

Salvou o irmão das chamas, viu a família morrer carbonizada e, durante quase um dia, permaneceu desconhecida no Hospital de Santa Maria, em Lisboa, enquanto os pais, desesperados, a procuravam.

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Lisa Silva, de 19 anos, que está em coma induzido, é o ferido mais grave do acidente de anteontem na A25, em Sever do Vouga. A tragédia vitimou Marta Silva, de 21 anos, natural de Leiria; Lurdes Rocha de 61 anos, que vivia no Brasil; João Filipe, de 8 anos, que morava em Viseu; e duas mulheres que, ao que tudo indica, serão a tia e a avó de Lisa. Esta era pelo menos a informação ontem divulgada pelo hospital.
"Acabámos as autópsias e as pessoas carbonizadas eram duas mulheres, uma delas de idade avançada", afirmou ao CM Duarte Nuno, presidente do Instituto Nacional de Medicina Legal.
Durante todo o dia de ontem, angustiados, os pais de Lisa procuraram a jovem pelos hospitais. O casal esteve em Viseu e em Aveiro e chegou mesmo a pensar que a filha seria uma das vítimas que morreram vítimas das chamas. A jovem apenas foi identificada já ao final da tarde de ontem por uma amiga.
Um dia depois do acidente, a dor era visível entre os familiares das vítimas, que se recusavam a aceitar o trágico destino. Em Aveiro, os avós do pequeno estavam inconsoláveis. "Ia no carro com o pai e o irmão quando bateram. O Joãozinho não resistiu. Estamos muito magoados, o nosso menino morreu", disse José Moreira, avô da criança.
Na morgue do Hospital de Aveiro, os familiares de Marta Silva e o namorado, João, choravam a morte da jovem. "Estávamos todos num ambiente de alegria porque vínhamos de um baptizado e agora só temos tristeza. Ainda é difícil de acreditar que a Marta partiu", disse Elisa Dias, prima da vítima.
Marta seguia num Suzuki Swift com dois familiares. João, o namorado da jovem, que ontem estava inconsolável e só se segurava de pé com o apoio dos familiares, assistiu à morte da namorada, que vai hoje a enterrar, no cemitério de Ameixeira, em Ansião, Leiria.
Em Gouveia, Guarda, a dor estava também ontem presente. Lurdes, que estava emigrada no Rio de Janeiro desde os oito anos, estava de férias em Portugal. A mulher faleceu quando ia a caminho de Rio Torto, em Gouveia, onde tinha familiares. O corpo será trasladado para o Brasil.

PRESA NA ESTRADA SEM SABER QUE FILHO MORREU

Durante várias horas, Sofia permaneceu na fila de trânsito da A25, em direcção a Aveiro, sem saber que o filho, João Filipe, estava morto a poucos quilómetros dali. A mulher partiu em direcção a casa dos pais, em Aveiro, cerca de meia hora depois de o ex-marido sair de Viseu com os filhos em direcção a Penafiel. "Eles saíram algum tempo antes da Sofia. Ela estava presa na fila de trânsito sem saber que o João tinha sofrido o acidente", contou Helena, avó do menino.
Ao ter conhecimento do acidente, Helena ligou para Sofia, para saber se esta tinha escapado ilesa. "Liguei-lhe para ver se ela estava bem e perguntei pelos meninos. Até esse momento, nunca lhe tinha passado pela cabeça que o carro em que os filhos seguiam podia estar no acidente, explicou a avó.
Sofia procurou o filho pelos hospitais e só às 02h00 soube o que tinha acontecido a João. "Chorámos muito quando soubemos que o nosso menino morreu", disse, em lágrimas, Helena.
João e o irmão viviam com o pai há dois anos, altura em que Sofia se separou do marido. "Ela lutou tanto e agora nunca mais vai ter o filho com ela", explicou a avó. O funeral de João, que fazia domingo nove anos, realiza-se às 16h00 no cemitério Sul de Aveiro.